Utilização excessiva de celulares, tablets e computadores pode prejudicar, sobretudo, a visão de crianças e adolescentes, alerta especialista
O crescimento do uso de tecnologias digitais gera preocupações dos próprios usuários com os excessos do tempo gasto com esses dispositivos. Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos apontou que mais da metade dos adolescentes entrevistados (54%) consideram passar muito tempo com o celular. O levantamento foi uma iniciativa do centro de pesquisas Pew Research Center. Foram entrevistados 743 meninos e meninas de 13 a 17 anos e 1.058 pais de diversas regiões do país.
Quase metade dos jovens ouvidos (44%) disse checar o telefone assim que acorda para verificar o recebimento de novas mensagens. Segundo os dados, 28% relataram que agem assim de vez em quando. O tempo navegando em redes sociais foi objeto de preocupação de 41% dos adolescentes consultados. No caso de videogames, o percentual caiu para 26%. Do total, 58% comentaram sentir que devem responder a uma mensagem enviada, sendo 18% frequentemente e 40% em alguns momentos.
Os dados acima revelam um hábito cada vez mais impregnado na rotina dos jovens – contexto que, segundo a oftalmologista que atua no Hospital de Olhos Dyógenes Martins Pinto Lions, Thaíse Federizzi, requer atenção.
“Comprovadamente o uso em demasia desses aparelhos tem prejudicado, e muito, a visão das crianças e adolescentes. Essa nova geração vem desenvolvendo miopia, que é a dificuldade de ver para longe, cada vez mais precoce e em maior proporção, com graus mais altos do que as gerações anteriores”, frisa a profissional.
A oftalmologista explica que ao usar excessivamente esses dispositivos, inconscientemente diminui-se o número de piscadas das pálpebras, entre outros comportamentos – que somados comprometem – a saúde da visão.
“Piscar menos contribui para que a lágrima se evapore mais rapidamente, surgindo então sintomas de olho seco e cansaço visual. Além disso, a tela dos computadores, smartphones e telas em LED emitem uma luz azul, que a longo prazo podem ocasionar danos oculares. Ainda não está bem definido o papel dessa luz e qual a quantidade é necessária para culminar em doenças oftalmológicas, mas estudos mostram associação da luz azul com fadiga ocular, olho seco e em casos mais graves com danos significativos na retina”, observa Thaíse.
Atenção dos pais é fundamental
A adoção de alguns cuidados ainda na infância podem evitar que, ao chegar na fase adulta, a criança desenvolva ou agrave problemas de visão em virtude de hábitos como o uso excessivo de celulares e aparelhos eletrônicos. Thaíse reforça que os principais agentes de atenção, nestes casos, são os pais. “Eu sempre oriento pra os pais que restrinjam o tempo de uso de dispositivos eletrônicos na vida de seus pequenos. Na dúvida, sempre opte por uma brincadeira mais saudável ao ar livre e lembre-se, consulta oftalmológica de rotina na criança é fundamental, prevenir é sempre melhor que remediar”, comenta a oftalmologista.
Ainda se tratando da pesquisa, os autores do estudo americano também ouviram pais e mães para saber sobre seus hábitos e como veem o comportamento dos filhos em relação a tecnologias digitais. O índice de avaliação dos entrevistados sobre seus próprios hábitos foi menor tanto no uso excessivo de celulares (36%) quanto de redes sociais (23%). O percentual também foi menor quando perguntados se acessam o celular assim que acordam (20%). “Os pais estão de alguma forma menos preocupados com seu próprio uso da tecnologia do que os filhos estão em relação ao deles”, apontam os autores.
Já ao falar sobre seus filhos, 65% manifestaram preocupação com o tempo gasto pelos adolescentes com dispositivos digitais. Dos homens e mulheres ouvidos, 72% relataram que estes se distraem em uma conversa presencial por estarem de olho no celular, sendo 30% o tempo inteiro e 42% de vez em quando. Em razão dessa preocupação, mais da metade (57%) limitam o tempo que seus filhos podem passar utilizando esses dispositivos.